domingo, 23 de novembro de 2008

Notícia - Lecool



Teatro A Senhora de Sade
Diz-se que por trás de um grande homem está sempre uma grande mulher. Ora, grande ou não, por trás do Marquês de Sade, como não poderia deixar de ser, está também uma mulher:
A Senhora de Sade. Aqui é ela a protagonista e o próprio do Marquês nem chega a pisar as tábuas. (Dêem-lhe descanso, pois é sempre ele o do papel principal.) Desta vez o poderio é totalmente feminino e não há nenhum homem no elenco. E a Senhora de Sade, não é apenas uma. São seis! A esposa amorável, a sogra perturbada pelos excessos do genro, a irmã que se torna amante do culpado perseguído, uma criada discreta, uma piedosa amiga da família e uma Sade fêmea, adepta do Marquês. Umas descrevem-no como vicioso, outras como imaculado. E aí surge um conflito entre imoralidade e castidade. Sempre polémico e apaixonante, o Sr. Marquês! /Sónia Castro

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

A Senhora de Sade - Programa


A Senhora de Sade - Programa


A Senhora de Sade - notícia Time Out


A Senhora de Sade CCB (garagem)

No meio dos carros, debaixo de terra, faz-se uma peça de teatro. É ali, junto ao estacionamento 272 e 273: por cima da passadeira amarela, seis actrizes dão vida a A Senhora de Sade, a peça escrita por Yukio Mishima (1925-1970) que esta sexta-feira se estreia na garagem do Centro Cultural de Belém. Isso mesmo, na garagem. No meio dos carros, debaixo de terra.
A estreia está inserida no Ciclo Mishima, que o CCB organiza até 14 de Dezembro em homenagem ao escritor japonês. E pode dizer-se que esta é uma peça em que a personagem principal nunca chega a aparecer. Porque a personagem principal é o Marquês de Sade (1740-1814) e A Senhora de Sade é só mulheres. Ou melhor, é a história de como seis mulheres vêem o marquês, escritor e aristocrata francês que acabou internado num hospício e preso por causa das obras onde defendia o prazer sexual (orgias e dor incluídas, e daí o termo que viria a nascer a partir do seu nome, o sadismo).
A esposa (Marta Furtado) que participava nas orgias do castelo e manifestou o seu apoio a Sade enquanto este esteve preso; a sogra (Cucha Carvalheiro); a irmã da mulher (Maria João Falcão); a criada (Joana Brandão); a baronesa (Luísa Cruz) e a condessa (Lucinda Loureiro) – são as seis que definem o marquês. “Esse mecanismo da peça é interessante tratando-se de Sade”, diz Carlos Pimenta, responsável pela encenação, “porque ele é um autor indefinido que tem sido apropriado ao longo do tempo consoante aquilo que se vai descobrindo, e é uma personagem difícil de classificar, da qual nem se conhece o retrato.”
A estrutura da peça está assente nos diálogos e confrontos, porque a visão destas seis mulheres não coincide. Por trás de cada confronto e situação, uma grande oposição: “a contradição entre natureza e moral”, resume o encenador. A rosa e a serpente de que falará Renée, a marquesa de Sade. Para não se tomarem posições, a plateia fica dos dois lados, rodeando as actrizes e a passadeira de peões amarela. O que nos leva de volta à garagem, e à pergunta: porquê fazer uma peça de teatro numa garagem?
Carlos Pimenta responde: “Mishima escreveu um texto onde exprime o fascínio pelo clássico francês. É um texto que se passa nos grandes salões, no século XVIII. A escolha da garagem tem a ver com uma preocupação minha e do Daniel Blaufuks [responsável pelo espaço cénico] de colocar a peça num espaço contemporâneo.” Continua o encenador: “O que me interessa fazer com os textos clássicos é sempre uma leitura contemporânea. Nesse sentido, a garagem permite deslocalizar o texto de um sítio convencional, ao mesmo tempo que se aproveitam outras características do espaço.”
Há cenas que se passam em carros. Ao fundo, as projecções de Daniel Blaufuks mostram imagens de salões, jardins, lustres. Imagens que contextualizam as cenas da peça, mas “que sublinham uma contradição com o espaço asséptico da garagem.” Um outro confronto.
Ana Dias Ferreira
terça-feira, 18 de Novembro de 2008

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

A Senhora de Sade - notícia

Teatro: Seis mulheres à volta de Sade na garagem do CCB
14 de Novembro de 2008, 13:29
Lisboa, 14 Nov (Lusa) - Seis mulheres falam de um homem que nunca aparece em "A Senhora de Sade", peça que o Centro Cultural de Belém estreia sexta-feira e que põe em confronto a natureza humana e a moral.
O autor do texto é Yukio Mishima e a encenação é de Carlos Pimenta que escolheu o parque de estacionamento subterrâneo do Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa, para apresentar o espectáculo.
"Sade não aparece em cena, mas é enunciado e descrito através da fala de seis mulheres que com ele tiveram mais ou menos relação", disse à Lusa o encenador que há 10 anos tinha o projecto de pôr em cena este texto e agora o vai fazer no âmbito de um ciclo que evoca a figura e a obra do japonês Yukio Mishima.
Duas coisas seduziram Carlos Pimenta neste texto - o facto de a peça ter uma estrutura muito semelhante ao teatro clássico francês, do qual Mishima era um grande entusiasta, e de ser uma peça escrita por um oriental que, no fundo, reflecte sobre a cultura ocidental.
A escritora Marguerite Yourcenar considerou "A Senhora de Sade" uma peça audaciosa, feita à base de diálogo, "construída através de um contraponto de vozes femininas: a esposa amorável, a sogra convencionalmente perturbada pelos excessos do genro, a irmã que se torna amante do culpado perseguido, uma criada discreta, uma piedosa amiga da família e uma Sade fêmea, adepta do Marquês".
"Há um cuidado muito grande com a linguagem, com o trabalhar das frases, o que achei muito interessante", referiu o encenador, um "entusiasta" de textos com uma estrutura clássica.
"Ao longo dos três actos procuramos captar uma imagem do Marquês que nos permita fixar o seu retrato. Mas Sade não tem rosto", escreveu Carlos Pimenta num texto sobre esta peça.
Em declarações à Lusa, o encenador acrescentou que vê este texto como "uma luta entre a natureza e a moral, entre aquilo que é natural ao homem e aquilo que são os códigos morais e sociais pelos quais ele se rege".
Mishima situou esta peça (de 1965) no período do iluminismo, da revolução francesa, mas Carlos Pimenta decidiu apresentá-la no CCB com uma leitura contemporânea.
A acção (que originalmente se passa num salão) foi propositadamente afastada de um palco, fora de uma sala escura e situada na garagem do CCB.
O objectivo foi o de apresentar a narrativa como se aquelas seis mulheres acabassem de vir do cinema ou de um espectáculo e se encontrassem naquele parque de estacionamento e, enquanto vão buscar os seus carros, falam sobre um homem que conhecem.
"A mim particularmente não me interessa muito o teatro arqueológico ou o teatro de fazer como imaginamos que deverá ter sido, interessa-me sempre essa leitura contemporânea relativamente aos textos", explicou.
No espaço cénico, que contou a com a intervenção de Daniel Blaufuks, há movimentação de veículos, há cenas que se passam dentro dos carros e há projecções nas paredes da garagem, com trabalhos do fotógrafo.
O que se pretende é destruir a ideia de garagem e remeter para a ideia de teatro, apontou o encenador, explicando que serão projectadas imagens de salões de palácios, jardins, lustres.
"Isso faz com que o espectador se questione sobre o verdadeiro lugar, em termos históricos, da pertença daquele texto. É isso que nos interessa que seja possível ao espectador aceitar uma leitura contemporânea, aceitar que as ideias, os conceitos que são apresentados são legíveis hoje e fazem parte da sua vivência, dos seus questionamentos", acrescentou.
As seis actrizes em cena são Marta Furtado, Cucha Carvalheiro, Maria João Falcão, Luísa Cruz, Joana Brandão e Lucinda Loureiro.
A peça será apresentada de 21 a 24 de Novembro.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

A Senhora de Sade - Fotos de Ensaio





A Senhora de Sade - Clip



Veja aqui o clip






A Senhora de Sade





INTEGRADO NO CICLO MISHIMA, UM ESBOÇO DO NADA A SENHORA DE SADE

Carlos Pimenta encena a peça Senhora de Sade que Yukio Mishima escreveu em 1965 e que traça um olhar feminino sobre uma das figuras mais emblemáticas da cultura europeia.


21, 22 e 24 Nov 2008 - 21:0023 Nov 2008 - 19:00
M/12 ANOS
GARAGEM SUL DO CENTRO DE REUNIÕES


PREÇO 15€DESCONTOS HABITUAIS (para bilhetes adquiridos no CCB)


“Seis mulheres à volta de um homem chamado Sade. Por vezes descrevem-no como vicioso, outras como imaculado. Das suas descrições emerge um conflito entre imoralidade e castidade. Mishima acreditava que ‘O clímax dramático do shingeki (novo teatro) deve residir estritamente nos diálogos e consiste na confrontação de ideias contraditórias’. Senhora de Sade é uma obra na qual esta teoria é plenamente desenvolvida. No espírito humano existe uma quase inevitável atracção para violar o que é proibido. A peça de Mishima evoca constantemente este desejo latente.”

KANESHITA TATSUO, Encenador


“Quem comete um crime, por mais que não queira, tem que se confrontar com Deus. O erotismo é um processo de chegar a Deus, seguindo o lado inverso. Este é o tema da minha Senhora de Sade.”

YUKIO MISHIMA


Autor YUKIO MISHIMA

Tradução MARIA JOÃO BRILHANTE

Encenação CARLOS PIMENTA

Espaço cénico DANIEL BLAUFUKS

Figurinos FILIPE FAÍSCA
Desenho de Som JOÃO BUCHO
Com:

RENÉE, marquesa de Sade, MARTA FURTADO

SENHORA DE MONTREUIL, mãe de Renée, CUCHA CARVALHEIRO

ANNE - PROSPÈRE, irmã mais nova de Renée, MARIA JOÃO FALCÃO

BARONESA DE SIMIANE - LUÍSA CRUZ

CONDESSA DE SAINT-FOND - LUCINDA LOUREIRO

CHARLOTTE - JOANA BRANDÃO


segunda-feira, 12 de maio de 2008

Cartaz




Jornal de Notícias




"A dama do mar" no Carlos Alberto
Pedro correia
Emília Silvestre é Ellida Wangel, atormentada, mas livre para escolher
Tida como um dos testemunhos mais significativos que Henrik Ibsen deixou sobre as contradições entre a vida e a moral, a peça "A dama do mar" estreia hoje no Teatro Carlos Alberto, no Porto. É a primeira produção da Ensemble dedicada à obra do dramaturgo norueguês, sendo a encenação assinada por Carlos Pimenta. Emília Silvestre, Jorge Pinto e António Durães asseguram os papéis principais desta história, que desvenda a luta de uma mulher confrontada com a necessidade da escolha.O espectáculo desenvolve-se em duas partes, "Mar calmo" e "Mar revolto", e todas as personagens têm nome, à excepção de uma o estranho. Ele é ao mesmo tempo um segredo e um tormento para Ellida, a filha de um faroleiro que aceitou afastar-se do mar para viver com o marido. Segredo, porque em tempos ela prometera o seu coração a esse marinheiro. Tormento, pois receia que ele regresse das profundezas do mar para vingar um amor que, afinal, não teve correspondência.Publicado em 1888, "A dama do mar" é um dos símbolos da fase em que o autor chamou à cena temas como a luta pela capacidade de decisão e a consequente determinação do futuro de cada um, a igualdade dos sexos, a vocação do indivíduo. Daí que a escolha, o inatingível e o futuro ondulem neste espectáculo em que, como é recorrente em Ibsen, a mulher é a heroína de facto.No caso, Ellida é uma mulher "entre dois homens que reclamam o direito de posse", como explica Jorge Pinto, a quem cabe desempenhar o papel de marido, um médico que já não consegue encontrar na ciência a solução para os desequilíbrios mentais da jovem esposa. E é por isso que o Dr. Wangel dá a Ellida a hipótese de escolher entre ficar ou partir com o marinheiro. Nesse jogo em palco, que acaba por não ser absolutamente conclusivo aos olhos do espectador, "há alimento para muitas reflexões", refere ainda o actor. A única certeza é que a mulher é livre e escolhe.Esta peça foi inspirada numa lenda, a mesma a que Edvard Munch recorreu para criar a sua "Dama do mar", pintura a óleo que representa uma sereia deitada sobre águas calmas. Apesar da raiz comum das peças, a referida criação de Munch é posterior ao texto de Ibesen. O espectáculo, cuja estreia está marcada para as 21.30 horas, conta ainda com a interpretação de Alexandra Gabriel, Isabel Queirós, Paulo Moura Lopes, Luís Araújo e Ivo Alexandre. Fica em cena até ao dia 25, no mesmo horário, excepto ao domingo, em que a sessão é às 16. Isabel Peixoto

A Dama do Mar




A Dama do Mar de Henrik Ibsen. Encenação de Carlos Pimenta[ 9 25 MAI. TEATRO CARLOS ALBERTO
'O egocêntrico exame de consciência do cristianismo habituara-o a estar atento a si próprio, a afagar-se, a embalar-se com uma infinita ternura. E esse eu bem tratado crescia e olhava sempre para dentro em lugar de lançar uma olhadela para ver o que se passava à sua volta. Assim, o rigorismo moral desagua, através da introspecção e da auto-análise, nas subtilezas psicológicas complacentes e extenuantes do refúgio em si mesmo.'
August Strindberg – O Filho da Criada
'Para Ibsen, o próprio desejo de uma vida plena e inteira surge como culpado; culpado de não ter em conta a verdade, isto é, as condições objectivas que se opõem ao livre desabrochar da pessoa. Ao mesmo tempo, Ibsen sabe muito bem que essa “megalomania da vida” é necessária. Nas suas últimas peças, os indivíduos encontram-se confrontados com uma terrível escolha entre dois males, entre dois erros igualmente trágicos. (…) Era um grande poeta do mal-estar da civilização: dá-se claramente conta de que a civilização da sua época bloqueia o sonho de uma humanidade feliz e reconciliada consigo mesma, de que ela torna irrealizável esse desenvolvimento harmonioso. E, no entanto, Ibsen persegue esse sonho de peça em peça, até à desilusão. Bem antes de Thomas Mann, ele mostra quão vão é esse esforço que a vida faz para se transcender a si mesma e a impossibilidade dessa transcendência.Ele narra a barreira que existe entre o indivíduo e a vida.'
Claudio Magris
Publicado por Palhaço Voador às 2:25 PM

A Dama do Mar - Jornal O Primeiro de Janeiro

Ensemble - Sociedade de Actores estreia-se em Henrik Ibsen com "A Dama do Mar" no Teatro Carlos Alberto
Uma dama com a alma na boca
O encenador Carlos Pimenta escolheu: Henrik Ibsen, "A Dama do Mar", Emília Silvestre e o Ensemble - Sociedade de Actores. Ibsen escolheu o essencial, Ellida a verdade e Wangel (Jorge Pinto) a aprendizagem. É o mergulho profundo nas almas que nos questiona sobre o que está escondido no fundo de nós, até 25 de Maio no Teatro Carlos Alberto.Ana Sofia Rosado"Quase fizemos duas versões da mesma peça: o jogo social tal como ele é enunciado e o desmontar desse mesmo jogo encarando a verdade das coisas", avança Carlos Pimenta, o encenador de "A Dama do Mar", no palco do Teatro Carlos Alberto, no Porto, até 25 de Maio. Quando Henrik Ibsen aborda o não dito, aquilo que está por detrás do texto, no fundo, a verdade escondida, Carlos Pimenta detecta uma fascinante geografia das relações e apaixona-se pela ruptura operada nessa construção social metafórica. "Aqui tudo é dito, nada está escondido. Tudo é racionalmente encarado e experimentado - é este o aspecto mais fascinante da escrita de Ibsen. Essa possibilidade sempre enunciada: nós colocamos uma pedra sobre o assunto e Ibsen investiga o que estamos a esconder", avisa sobre esta peça de 1888 pouco representada nos palcos nacionais.Wangel é um homem ligado a uma mulher, Ellida, ligados a um sistema e à necessidade de sair desse sistema. Está em causa a determinação do futuro próprio, num jogo que se reformula constantemente.No jogo do palco exige-se honestidade ao actor para com a sua personagem, mas Ellida não ampara Emília Silvestre. "Sinto-me a andar ao sabor do que ela vai descobrindo, caminho com a sua descoberta e evolução", diz dessa mulher que no fim da peça já não é a mesma. "Eu própria me surpreendo com o que ela diz. Esta honestidade é rara hoje em dia: termos a alma na boca. A partir de certa altura, ela diz tudo e o que ela diz é a verdade", confessa, com fascínio."O médico enferma desse mesmo mal que é a honestidade", aponta Jorge Pinto sobre a capacidade de aprendizagem de Wangel. "As pessoas ficam felizes por exercer aquilo que aprenderam, mas estamos a alterar este conceito em relação aos nossos filhos: hoje ensinamo-los a aprender permanentemente. Wangel faz uso das suas capacidades por força desta mulher e vai confessando que já não lhe chega aquilo que sabe. No limite, percebe que passar a responsabilidade da escolha - precisamente para a pessoa que sempre se mostra irresponsável - é a única solução para ambos", descreve o actor. Em causa está, para Jorge Pinto, a própria evolução, caso não se libertem dos condicionalismos, e é preciso depurar as diferenças culturais até que nos detenhamos apenas nas diferenças reais."A Dama do Mar" está construída para um desequilíbrio que culmina numa decisão. Entre o sim e o não, Ellida não pode recorrer ao meio-termo. Ao criar um espectáculo aberto, Carlos Pimenta apela à tomada de partido do público. "O meu objectivo é transportar qualquer texto, Shakespeare ou Racine, para os dias de hoje e perguntar o que é que as pessoas de hoje têm a ver com isto, neste caso com Ibsen", afirma. Nos dois meses de ensaios do texto de 1888, desafiou Carlos Pimenta: "Admitam que este texto foi escrito ontem". Porque é completamente verosímil e todas as suas questões ainda hoje se colocam. "Não me interessa nada fazer arqueologia teatral", avisa. O encenador já só tem vontade de voltar a Ibsen e talvez "Os Pilares da Comunidade" (1877) seja o próximo projecto. Carlos Pimenta está particularmente interessado na reacção do público, porque se trata, a seu ver, de "um Ibsen especial". Acalenta grandes expectativas em relação a qualquer espectáculo, mas neste são particularmente altas pelo risco assumido. Porque há mais vida para além dos ensaios, o encenador ia dizendo: "Benzinho, já sabemos fazer, agora vamos complicar e ver do que ainda não somos capazes". Enunciaram e foram à procura. Quando Carlos Pimenta abraça uma peça pensa que é sempre a última vez e por isso dá tudo por tudo - "não vale a pena deixar nada para amanhã". Confrontado com o privilégio do palco, une-se ao elenco num compromisso intenso de duas horas e vinte minutos. "Vamos dar o máximo, por isso as nossas expectativas são tão elevadas", responde o encenador ao público que optar por embarcar numa viagem com desconhecidos em sala escura. Nas profundezas de um marO percurso da Ensemble - Sociedade de Actores tem trilhado os autores clássicos. Não se trata de actualizar o texto, alerta Jorge Pinto: "As peças do tabuleiro são as mesmas, mas o jogo é da Ensemble". Quando Carlos Pimenta procurou a Ensemble, o elenco mergulhou n'"A Dama do Mar", de Henrik Ibsen, traduzida por Pedro Fernandes, não com o pensamento da época do autor, mas num contexto social contemporâneo. Com cenografia de João Mendes Ribeiro, figurinos de Bernardo Monteiro e desenho de luz de José Álvaro Correia, a produção da Ensemble conta ainda com as interpretações de Alexandra Gabriel (Bolette), Isabel Queirós (Hilde), Paulo Moura Lopes (Professor Arnholm), António Durães (Um Estranho), Luís Araújo (Lyngstrand) e Ivo Alexandre (Ballested). Fica o aviso de Michel Vinaver: "As pessoas fazem tudo o se quiser excepto sondar nas profundezas de si mesmas, como acontece com as personagens de Ibsen".

segunda-feira, 28 de abril de 2008

(Texto Programa) A Dama do Mar - Verdade e consequência

A Dama do Mar - Verdade e consequência


Parte 1 – Mar calmo

Ballested quer pintar A morte da Sereia.
Lyngstrand encena-se como imagem de si próprio.
Wangel consome-se em Ellida.
Ellida esconde-se no fundo do mar. Wangel procura-a à superfície.
Hilde parece uma jovem rebelde.
Arnolhm precisa de uma mulher. Bollete precisa de sair dali.
E o Estranho… qual é o seu nome?

Parte 2 – Mar revolto

Lyngstrand extrai dos outros o barro com que vai moldar a sua primeira e derradeira obra.
Wangel liberta Ellida e consuma-se a si próprio.
Ellida quer decidir (-se). Redenção ou sacrifício?
Arnholm compra Bollete quando esta se deixa vender (belo tema para uma peça de teatro!).
Hilde experimenta-se como jovem rebelde.
Ballested nunca chega a pintar A morte da Sereia.
E o Estranho… qual é o seu nome?

O que Ibsen nos mostra são personagens ocupadas em fugir da realidade. Como nos diz, noutra das suas peças, o construtor Solness “É preciso ter cuidado com os nossos desejos, porque eles podem concretizar-se”.
É isto terrível? Terrível é o mar, porque mete medo e atrai.

Apesar de tudo, a história de Ellida pode contar-se nas palavras de uma canção.
Será que as sereias afinal existem?

“Prive o homem comum da sua mentira vital e ter-lhe-á roubado a felicidade.”
Dr. Relling em O Pato Selvagem.

Carlos Pimenta, Maio 2008

Fotos ensaios A Dama do Mar




Fotos ensaios A Dama do Mar










Fotos ensaios A Dama do Mar


Fotos ensaios Dama do Mar


quinta-feira, 27 de março de 2008

Ibsen - A Dama do Mar - Estreia a 9 de Maio no TECA (Porto) Produção ENSEMBLE


A Dama do Mar
Autor: Henrik Ibsen
Tradução de: Pedro Fernandes ©Livros Cotovia

Produção: ENSEMBLE

Encenação: Carlos Pimenta
Cenário: João Mendes Ribeiro
Figurinos: Bernardo Monteiro
Luz: José Álvaro Correia
Vídeo: Alexandre Azinheira
Assistente de encenação e de produção: Vânia Mendes

Com: Emília Silvestre, Jorge Pinto, António Durães, Alexandra Gabriel, Isabel Queirós, Luís Araújo, Paulo Moura Lopes e Ivo Alexandre.


Variações - Texto do Programa

Nada do que vive pode viver sozinho

Dois homens encontram-se num parque à beira de um lago. Falam sobre patos. No entanto, nenhum deles sabe grande coisa acerca de patos. Especulando sobre os hábitos dos patos, a conversa deriva para temas como a amizade, a condição humana, o medo da solidão e a morte. Na divagação metafísica que entre si estabelecem, o mundo e a experiência de vida de ambos emergem.
Usam a metáfora como via possível para a manutenção da conversa. Ao falar de patos sublimam, deste modo, uma ideia de liberdade. A fala permite-lhes expor, ainda que indirectamente, as suas pequenas tragédias íntimas. Constitui-se, no seu processo de tentativa e erro, como um ensaio para a probabilidade da comunicação.
Os dois homens, habitantes respeitáveis da grande cidade, são-nos aqui apresentados no condicionamento que a ordem e a regulação social lhes impõe. A observação da organização e harmonia da natureza, na sua “natural simplicidade”, evidenciam-nos um desejo – e também uma impossibilidade – de modus vivendi incompatível com o homem gregário. Enquanto animal social, o homem constrói o seu próprio sistema de vigilância que se configura como constrangedor da sua expressão privada ou colectiva: é criador do seu próprio labirinto.
O relacionamento com o outro impõe regras e restrições cujo rompimento determina a punição. Essa punição corporiza, no seu grau mais adverso, a privação da liberdade.
O parque e o lago metaforizam, assim, nesta peça de Mamet, uma espécie de Zoo da natureza (e da vida!), uma liberdade condicionada.

Cada vez que penso em coisas selvagens que voam.

Se, numa grande cidade como a nossa…

Nós pudéssemos…

Patos.

Patos. Voando livremente.

Livremente. Sobre as fronteiras.

Sem se preocuparem. Sem pararem.

Sem pararem por causa dos homens.

(Décima Segunda Variação)


Apesar de tudo, esta é uma peça simples… como a vida. Dois homens, encontram-se com o seu reflexo na superfície tranquila das águas de um lago “observando-se um ao outro, cada um a fazer o que pode para que a terra continue a girar por mais um dia”.
Mas, será isto a vida? Só isto?

Repare: deixa-se cair uma pedra num lago. As pequenas ondas que se formam, vão até sabe-se lá onde…
(Quinta Variação)

Pois é! Com a vida… acontece precisamente a mesma coisa!

Carlos Pimenta, Fevereiro de 2008

Variações - Ensaio Geral


Variações - Ensaio Geral


Variações - Imagens do ensaio geral


Variações à beira de um lago - Imagens do ensaio geral


sábado, 2 de fevereiro de 2008

Estreia dia 28 de Fevereiro

COMPANHIA DE TEATRO DE ALMADA


VARIAÇÕES À BEIRA DE UM LAGO
The duck variations
DAVID MAMET

Com
André Gomes e João Ricardo

Cenografia: João Mendes Ribeiro
Música original: Mário Laginha
Vídeo: Alexandre Azinheira
Desenho de Luz: José Carlos Nascimento
Assistente de encenação: Ana Rita Miranda

Tradução e encenação: Carlos Pimenta

De 28 de Fevereiro a 30 de Março – sala experimental
TEATRO MUNICIPAL DE ALMADA

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