segunda-feira, 12 de maio de 2008

Jornal de Notícias




"A dama do mar" no Carlos Alberto
Pedro correia
Emília Silvestre é Ellida Wangel, atormentada, mas livre para escolher
Tida como um dos testemunhos mais significativos que Henrik Ibsen deixou sobre as contradições entre a vida e a moral, a peça "A dama do mar" estreia hoje no Teatro Carlos Alberto, no Porto. É a primeira produção da Ensemble dedicada à obra do dramaturgo norueguês, sendo a encenação assinada por Carlos Pimenta. Emília Silvestre, Jorge Pinto e António Durães asseguram os papéis principais desta história, que desvenda a luta de uma mulher confrontada com a necessidade da escolha.O espectáculo desenvolve-se em duas partes, "Mar calmo" e "Mar revolto", e todas as personagens têm nome, à excepção de uma o estranho. Ele é ao mesmo tempo um segredo e um tormento para Ellida, a filha de um faroleiro que aceitou afastar-se do mar para viver com o marido. Segredo, porque em tempos ela prometera o seu coração a esse marinheiro. Tormento, pois receia que ele regresse das profundezas do mar para vingar um amor que, afinal, não teve correspondência.Publicado em 1888, "A dama do mar" é um dos símbolos da fase em que o autor chamou à cena temas como a luta pela capacidade de decisão e a consequente determinação do futuro de cada um, a igualdade dos sexos, a vocação do indivíduo. Daí que a escolha, o inatingível e o futuro ondulem neste espectáculo em que, como é recorrente em Ibsen, a mulher é a heroína de facto.No caso, Ellida é uma mulher "entre dois homens que reclamam o direito de posse", como explica Jorge Pinto, a quem cabe desempenhar o papel de marido, um médico que já não consegue encontrar na ciência a solução para os desequilíbrios mentais da jovem esposa. E é por isso que o Dr. Wangel dá a Ellida a hipótese de escolher entre ficar ou partir com o marinheiro. Nesse jogo em palco, que acaba por não ser absolutamente conclusivo aos olhos do espectador, "há alimento para muitas reflexões", refere ainda o actor. A única certeza é que a mulher é livre e escolhe.Esta peça foi inspirada numa lenda, a mesma a que Edvard Munch recorreu para criar a sua "Dama do mar", pintura a óleo que representa uma sereia deitada sobre águas calmas. Apesar da raiz comum das peças, a referida criação de Munch é posterior ao texto de Ibesen. O espectáculo, cuja estreia está marcada para as 21.30 horas, conta ainda com a interpretação de Alexandra Gabriel, Isabel Queirós, Paulo Moura Lopes, Luís Araújo e Ivo Alexandre. Fica em cena até ao dia 25, no mesmo horário, excepto ao domingo, em que a sessão é às 16. Isabel Peixoto

Sem comentários: