A Voz Humana (1930)
Autor: Jean Cocteau
Tradução: Alexandra Moreira da Silva
Intérprete: Emília Silvestre
Figurinos: Bernardo Monteiro
Desenho de luz: José Álvaro Correia
Uma Co-Produção: Ensemble http://www.ensembledeactores.com/| São Luíz Teatro Municipalhttp://www.teatrosaoluiz.pt | Festival Temps d’Images http://www.tempsdimages-portugal.com/index.html
Estreia no São Luíz Teatro Municipal – 28 a 30 de Outubro de 2011
Apresentações no Teatro Nacional de S. João – 18 de Novembro a 4 de Dezembro
Do seu quarto em desordem uma mulher telefona ao amante que acaba de a abandonar. O telefone surge, nesta situação, como único elemento capaz de estabelecer a comunicação entre a solidão da mulher e os lugares de ausência do ex-amante.
O telefone chama uma voz sem corpo, sem local, mas plena de presença sonora. Desde logo uma voz apanhada numa rede de comunicações, sujeita a interferências, linhas cruzadas e terminações abruptas. Voz, respiração, movimento, ruído, valores que assumem aqui múltiplas possibilidades relacionais.
Nesta obra, cheia de palavras e de silêncios, o telefone enquanto mediador da expressão dos sentimentos revela-se essencial. Mas o que é hoje a voz humana, mais de setenta anos passados sobre a escrita da peça?
O que procuramos encontrar na voz? Uma ligação direta ao humano?!
No entanto essa ligação perde-se cada vez mais no advento da tecnologia e o homem vai-se transformando num simulacro inorgânico de si próprio. A voz já não nos devolve a imagem de um rosto. Transformada em sinais electro-acústicos tornou-se disfarce da realidade. Ainda seremos capazes de reconstruir o corpo ignorando esta outra dimensão do real?
A erradicação da distância é também a razão de ser do telefone. A tentativa de compensar ou, em certos casos, de instalar um vácuo, um lugar de não distância onde os corpos não se encontram mas onde as vozes – e o pensamento – podem viajar.
“Dantes, escreve Cocteau, as pessoas viam-se. Podíamos perder a cabeça, esquecer as promessas feitas, arriscar o impossível, convencer aqueles que adorávamos através de um beijo ou de um abraço. Um olhar podia mudar tudo. Mas, com este aparelho, o que acabou acabou”.
Terá mesmo acabado ou teremos reaprendido a viver tudo isto na sua transmutação simbólica em imagens e em sons? O corpo parece ter-se desprendido do real. Ocupa, agora, um não-lugar. Em A Voz Humana é nesse não-lugar que a relação da mulher com o seu ex-amante se movimenta.
Carlos Pimenta | Raquel Castro
Nota: Integrado no Festival Temps D´Images e no decurso da apresentação de A Voz Humana estará em exibição o trabalho SOUNDWALKERS de Raquel Castro e será realizada uma mesa-redonda – com diversos especialistas a anunciar - sobre o tema do som e da mediação.
28 A 30 OUT - SLTM
CONCEPÇÃO E REALIZAÇÃO DE RAQUEL CASTRO
SEXTA A DOMINGO EM HORÁRIO A DEFINIR
JARDIM DE INVERNO
Soundwalkers, instalação de Raquel Castro, é apresentada em paralelo com a carreira do espectáculo A Voz Humana.
Soundwalkers explora «alguns princípios fundamentais para construirmos uma sociedade acusticamente saudável, onde possamos viver dentro dos sons da vida. O respeito pela voz e pela palavra, a consciência sonora, o despertar da audição. [Aceita-se] o silêncio, impondo-o nas alturas certas. E, acima de tudo, [ouve-se].»
Raquel Castro