sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Alguém olhará por mim - Frank Mcguinness





Frank McGuinness
Nasceu em 1953 no condado de Donegal, no norte da Irlanda, tal como Brian Friel (o irlandês que mais recorrentemente tem visitado o nosso palco), e é frequentemente considerado como o mais destacado dramaturgo inglês da sua geração. Voz radical, reveladora de uma sensibilidade mais urbana e cosmopolita do que a generalidade dos seus compatriotas dramaturgos das gerações anteriores, Frank MacGuinness sentiu-se interpelado pela história do cativeiro de Brian Keenan (irlandês que durante quatro anos partilhou uma cela do Líbano com um repórter da televisão inglesa e três norte-americanos) e escreveu Alguém Olhará por Mim.

Ficha Técnica
Texto de Frank MCGUINNESS
Encenação Carlos PIMENTA
Tradução Paulo Eduardo CARVALHO
Cenografia João Mendes RIBEIRO
Figurinos Bernardo MONTEIRO
Desenho de luz José Álvaro CORREIA
Música Ricardo PINTO
Assistente de encenação e produção Vânia MENDES
Intérpretes Jorge PINTO, Alberto MAGASSELA, Pedro GALIZA

5 a 7 NOVEMBRO 2010
Sex e Sáb às 21h30 e Dom às 16h
Duração:02h00m
M/12

Alguém olhará por mim - de 5 a 7 de Novembro - Teatro Municipal de Almada





Em Alguém olhará por mim (1992), texto a que a Associação de Críticos de Nova Iorque atribuiu o Prémio de Melhor Peça Estrangeira, um inglês, um irlandês e um norte-americano são feitos reféns e confinados a um cárcere onde antagonismos pessoais reproduzem antagonismos políticos. Aqui, Beirute é também Belfast, e o pano de fundo do conflito do Médio Oriente remete directamente para o coração do conflito na Irlanda do Norte. Depois da viagem nas duas últimas temporadas por clássicos como Tchecov, Ibsen e Molière, o Ensemble regressa – sob direcção de Carlos Pimenta – aos contemporâneos e a Frank McGuinness – poeta e dramaturgo irlandês, nascido em 1953, de que em 2001 apresentou uma desarmante Dama d’água, encenada por Nuno Carinhas.

sábado, 9 de outubro de 2010

Dueto para Um - Texto Programa



Natureza humana

Carlos Pimenta

Poderá Stephanie Abrahams ainda existir na ausência progressiva de um corpo que lhe impede a realização dos actos determinados pela consciência? Numa época – a nossa – em que o luto do corpo se vai fazendo na virtualidade de uma existência a que os avanços tecnológicos e científicos dão uma outra identidade (in)corpórea, para onde relegamos o Humano?

Stephanie procura resgatar-se da impossibilidade física que lhe condiciona o acto e o pensamento. Como a própria afirma, “é impossível mudar esta condição com determinação”. Stepanhie está dependente da inoperacionalidade de um corpo que a projecta na existência – no mundo – lugar do seu refúgio enquanto ser. Confrontada com essa impossibilidade, recusa-se a aceitar uma outra situação e encaminha-se para o acto último que a conduzirá à negação da sua manifestação num mundo que já não lhe surge sequer como propósito da própria vida.

O Homem é um ser no mundo – sozinho não existe – e é pela afirmação da vontade que vai adiando a inevitabilidade da morte. Para Stephanie, é precisamente a sua condição humana que impede, agora, que a sua vontade se afirme.

Nesta luta de milhares de anos para ultrapassar a nossa condição biológica, relembramo-nos constantemente enquanto seres na natureza. Contudo, não o fazemos para dela nos aproximarmos, mas, sim, para contra ela lutarmos. Descartada a ideia de Deus, as conquistas do homem são, tal como diz Feldmann, “o seu propósito e a sua recompensa”.

Stepanhie descobriu o seu propósito na música e na arte. Para ela, o violino não é um modo de vida, é onde vive. Com ele construiu um mundo inteiramente seu. Para alguns isto será fantasia mas, para ela, é esse o mundo real que construiu para se pacificar da “dor e da mágoa e da perda e das terríveis mudanças”.

Para Stephanie a arte é um exercício de legitimação, de sublimação, no qual procura reencontrar-se consigo mesma. Sem esse exercício interrompe-se a sua caminhada no mundo. Sabemos que não nos é possível negar a nossa condição biológica mas, sabemos, também, que a finalidade da existência se cumpre naquilo que é a nossa natureza racional, moral e espiritual.

Sem possibilidade de comunicar com os outros pelo exercício pleno da sua arte, Stephanie considera que a existência não faz sentido: porque é somente na sua possibilidade de expressão que encontra sentido para a vida.

“Senhora Abrahams, sabe qual é o sentido da vida?” – pergunta Feldmann do seu lugar de observador que lhe proporciona objectividade e clarividência. A resposta está no longo discurso em que, ele próprio, se revela enquanto Homem. Mas está, também, nas palavras de António Damásio que Feldmann, certamente, subscreveria:

“O que quer que inventemos, desde as normas da ética e do direito, passando pela música e literatura, até à ciência e tecnologia, é directamente inspirado pelas revelações da existência que a consciência nos oferece. […] O drama da condição humana deriva unicamente da consciência. […] Melhorar o nosso quinhão de existência é precisamente aquilo em que tem consistido a civilização, principal consequência da consciência e, desde há pelo menos três mil anos, com mais ou menos sucesso, melhorar a existência é aquilo que a civilização tem vindo a tentar”.

Em Dueto para Um, Stephanie trava uma dura batalha contra si própria. A seu lado, Feldmann procura ajudá-la com uma “arma” cada vez mais esquecida: saber ouvir.

Outubro de 2010

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

sábado, 2 de outubro de 2010