Teatro: Seis mulheres à volta de Sade na garagem do CCB
14 de Novembro de 2008, 13:29
Lisboa, 14 Nov (Lusa) - Seis mulheres falam de um homem que nunca aparece em "A Senhora de Sade", peça que o Centro Cultural de Belém estreia sexta-feira e que põe em confronto a natureza humana e a moral.
O autor do texto é Yukio Mishima e a encenação é de Carlos Pimenta que escolheu o parque de estacionamento subterrâneo do Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa, para apresentar o espectáculo.
"Sade não aparece em cena, mas é enunciado e descrito através da fala de seis mulheres que com ele tiveram mais ou menos relação", disse à Lusa o encenador que há 10 anos tinha o projecto de pôr em cena este texto e agora o vai fazer no âmbito de um ciclo que evoca a figura e a obra do japonês Yukio Mishima.
Duas coisas seduziram Carlos Pimenta neste texto - o facto de a peça ter uma estrutura muito semelhante ao teatro clássico francês, do qual Mishima era um grande entusiasta, e de ser uma peça escrita por um oriental que, no fundo, reflecte sobre a cultura ocidental.
A escritora Marguerite Yourcenar considerou "A Senhora de Sade" uma peça audaciosa, feita à base de diálogo, "construída através de um contraponto de vozes femininas: a esposa amorável, a sogra convencionalmente perturbada pelos excessos do genro, a irmã que se torna amante do culpado perseguido, uma criada discreta, uma piedosa amiga da família e uma Sade fêmea, adepta do Marquês".
"Há um cuidado muito grande com a linguagem, com o trabalhar das frases, o que achei muito interessante", referiu o encenador, um "entusiasta" de textos com uma estrutura clássica.
"Ao longo dos três actos procuramos captar uma imagem do Marquês que nos permita fixar o seu retrato. Mas Sade não tem rosto", escreveu Carlos Pimenta num texto sobre esta peça.
Em declarações à Lusa, o encenador acrescentou que vê este texto como "uma luta entre a natureza e a moral, entre aquilo que é natural ao homem e aquilo que são os códigos morais e sociais pelos quais ele se rege".
Mishima situou esta peça (de 1965) no período do iluminismo, da revolução francesa, mas Carlos Pimenta decidiu apresentá-la no CCB com uma leitura contemporânea.
A acção (que originalmente se passa num salão) foi propositadamente afastada de um palco, fora de uma sala escura e situada na garagem do CCB.
O objectivo foi o de apresentar a narrativa como se aquelas seis mulheres acabassem de vir do cinema ou de um espectáculo e se encontrassem naquele parque de estacionamento e, enquanto vão buscar os seus carros, falam sobre um homem que conhecem.
"A mim particularmente não me interessa muito o teatro arqueológico ou o teatro de fazer como imaginamos que deverá ter sido, interessa-me sempre essa leitura contemporânea relativamente aos textos", explicou.
No espaço cénico, que contou a com a intervenção de Daniel Blaufuks, há movimentação de veículos, há cenas que se passam dentro dos carros e há projecções nas paredes da garagem, com trabalhos do fotógrafo.
O que se pretende é destruir a ideia de garagem e remeter para a ideia de teatro, apontou o encenador, explicando que serão projectadas imagens de salões de palácios, jardins, lustres.
"Isso faz com que o espectador se questione sobre o verdadeiro lugar, em termos históricos, da pertença daquele texto. É isso que nos interessa que seja possível ao espectador aceitar uma leitura contemporânea, aceitar que as ideias, os conceitos que são apresentados são legíveis hoje e fazem parte da sua vivência, dos seus questionamentos", acrescentou.
As seis actrizes em cena são Marta Furtado, Cucha Carvalheiro, Maria João Falcão, Luísa Cruz, Joana Brandão e Lucinda Loureiro.
A peça será apresentada de 21 a 24 de Novembro.
14 de Novembro de 2008, 13:29
Lisboa, 14 Nov (Lusa) - Seis mulheres falam de um homem que nunca aparece em "A Senhora de Sade", peça que o Centro Cultural de Belém estreia sexta-feira e que põe em confronto a natureza humana e a moral.
O autor do texto é Yukio Mishima e a encenação é de Carlos Pimenta que escolheu o parque de estacionamento subterrâneo do Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa, para apresentar o espectáculo.
"Sade não aparece em cena, mas é enunciado e descrito através da fala de seis mulheres que com ele tiveram mais ou menos relação", disse à Lusa o encenador que há 10 anos tinha o projecto de pôr em cena este texto e agora o vai fazer no âmbito de um ciclo que evoca a figura e a obra do japonês Yukio Mishima.
Duas coisas seduziram Carlos Pimenta neste texto - o facto de a peça ter uma estrutura muito semelhante ao teatro clássico francês, do qual Mishima era um grande entusiasta, e de ser uma peça escrita por um oriental que, no fundo, reflecte sobre a cultura ocidental.
A escritora Marguerite Yourcenar considerou "A Senhora de Sade" uma peça audaciosa, feita à base de diálogo, "construída através de um contraponto de vozes femininas: a esposa amorável, a sogra convencionalmente perturbada pelos excessos do genro, a irmã que se torna amante do culpado perseguido, uma criada discreta, uma piedosa amiga da família e uma Sade fêmea, adepta do Marquês".
"Há um cuidado muito grande com a linguagem, com o trabalhar das frases, o que achei muito interessante", referiu o encenador, um "entusiasta" de textos com uma estrutura clássica.
"Ao longo dos três actos procuramos captar uma imagem do Marquês que nos permita fixar o seu retrato. Mas Sade não tem rosto", escreveu Carlos Pimenta num texto sobre esta peça.
Em declarações à Lusa, o encenador acrescentou que vê este texto como "uma luta entre a natureza e a moral, entre aquilo que é natural ao homem e aquilo que são os códigos morais e sociais pelos quais ele se rege".
Mishima situou esta peça (de 1965) no período do iluminismo, da revolução francesa, mas Carlos Pimenta decidiu apresentá-la no CCB com uma leitura contemporânea.
A acção (que originalmente se passa num salão) foi propositadamente afastada de um palco, fora de uma sala escura e situada na garagem do CCB.
O objectivo foi o de apresentar a narrativa como se aquelas seis mulheres acabassem de vir do cinema ou de um espectáculo e se encontrassem naquele parque de estacionamento e, enquanto vão buscar os seus carros, falam sobre um homem que conhecem.
"A mim particularmente não me interessa muito o teatro arqueológico ou o teatro de fazer como imaginamos que deverá ter sido, interessa-me sempre essa leitura contemporânea relativamente aos textos", explicou.
No espaço cénico, que contou a com a intervenção de Daniel Blaufuks, há movimentação de veículos, há cenas que se passam dentro dos carros e há projecções nas paredes da garagem, com trabalhos do fotógrafo.
O que se pretende é destruir a ideia de garagem e remeter para a ideia de teatro, apontou o encenador, explicando que serão projectadas imagens de salões de palácios, jardins, lustres.
"Isso faz com que o espectador se questione sobre o verdadeiro lugar, em termos históricos, da pertença daquele texto. É isso que nos interessa que seja possível ao espectador aceitar uma leitura contemporânea, aceitar que as ideias, os conceitos que são apresentados são legíveis hoje e fazem parte da sua vivência, dos seus questionamentos", acrescentou.
As seis actrizes em cena são Marta Furtado, Cucha Carvalheiro, Maria João Falcão, Luísa Cruz, Joana Brandão e Lucinda Loureiro.
A peça será apresentada de 21 a 24 de Novembro.
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