quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Dois Homens - De 8 a 10 de Janeiro 2010 no TECA/Porto







Dois Homens
de José Maria Vieira Mendes
a partir de Franz Kafka


interpretação Ivo Alexandre
encenação Carlos Pimenta
cenografia João Ribeiro
música original Dead Combo
desenho de luz José Carlos Nascimento
produção Teatro Municipal de Almada
Para Maiores de 12 anos

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Emilia Galotti






EMILIA GALOTTI
de Gotthold Ephraim Lessing

Tradução
JOÃO BARRENTO

Encenação
NUNO M CARDOSO

Elenco
ALBANO JERÓNIMO
ANA BUSTORFF
CARLOS PIMENTA
DAVID SANTOS
DINARTE BRANCO
RITA CALÇADA BASTOS
TERESA TAVARES

Cenografia
PAULO CAPELO CARDOSO

Figurinos
CARLOTA LAGIDO

Desenho de Luz
RUI SIMÃO

Música / Som
MIGUEL PEREIRA / MARCO PEREIRA
[VORTEXSOUNDTECH]

Direcção de Produção
JOANA CORDOEIRO

Produção Executiva
JOANA NETO

co-PRODUÇÃO
O CÃO DANADO E COMPANHIA, TNSJ

TEATRO CARLOS ALBERTO / PORTO/ 28 OUTUBRO a 8 NOVEMBRO 2009 ter-sáb 21:30 dom16:00

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Dois Homens - crítica Time Out


Dois Homens Teatro de AlmadaTeatro K., a personagem, tem um grande problema: vive o terror da culpa e da humilhação. Ivo Alexandre, o actor, na noite de quarta-feira da semana passada, teve também o seu contratempo: representou para uma turma de liceais. E apesar de idêntica ser a pressão a que se sujeitam, o homem, com estóico brio e particular dedicação, saiu-se melhor do que a personagem que interpreta.
No fundo, o que se passa em Dois Homens é um cidadão construir literalmente a prisão metafórica em que se encontra. É isso que acontece em palco quando K., fechado no seu escritório, se queixa de perseguição, lamentando a sua sorte, real ou imaginária, enquanto metodicamente constrói o seu cárcere, painel sobre painel até desaparecer do olhar do público e dele só restar uma sombra ocasional e uma voz. Isolado, preparado para o esquecimento, senhor de uma dor que não se deseja, quase sempre porque muito secretamente se partilha em silêncio conformista, K., ainda assim, não pára de falar, de fustigar e fustigar-se em correntes contínuas de estupefacção, resignação e cólera pela sua desgraçada condição. Uma ladainha pungente que a representação, envolvida na languidez da música dos Dead Combo, torna por vezes hipnótica, outras vezes comovente vulcão de sentimentos banhado pela emoção desenhada em luz por José Carlos Nascimento. É um destino que faz K. sentir-se desarmado num mundo ameaçador, e paradoxalmente culpado por dali não escapar pelos seus próprios meios, limitados pela educação e o condicionamento social, castrados por uma força superior ou uma paranóia singela. Pouco mais de uma década depois de se estrear, com interpretação de Luís Gaspar, no cenário da Antiga Fábrica Mundet, no Seixal, Dois Homens, de José Maria Vieira Mendes (n. 1976), é um original criado a partir de O Processo, Um Artista da Fome, O Castelo, O Covil, Colónia Penal e outros textos de Franz Kafka (1883-1924) que permanece um enérgico exercício de exposição e expurgação dos – por assim dizer – males que habitam as profundezas da alma, o lugar onde crescem os pesadelos e, se calhar, as chamadas “doenças sociais”. Vista através da peneira do tempo, esta parábola sobre a subordinação e a procura de um lugar a que chamar plenamente seu, não afirma apenas a pujança do pensamento e da escrita de Kafka que a inspiram, mas evidencia também o fulgor de um dramaturgo a construir-se como autor. A peça, agora revista por Carlos Pimenta, é uma narrativa escorreita e emocional em que o encenador utiliza com eficácia os mecanismos cénicos, fazendo do cenário de João Ribeiro instrumento fundamental de comunicação nesta viagem pelo absurdo, em que a tensão dramática, realçada pela decisiva e empenhada interpretação de Ivo Alexandre, faz de um vórtice de palavras uma cornucópia de sensações amargas, todavia lúcidas.
Rui Monteiro
terça-feira, 31 de Março de 2009

sábado, 28 de março de 2009

Oleanna de David Mamet - Em ensaios

Oleanna - David Mamet
http://mamet.eserver.org/
http://lectures.eserver.org/1036/nadel_128.mp3
http://www.imagi-nation.com/moonstruck/clsc31.html


Tradução- Vera San Payo Lemos e João Lourenço
Encenação - Carlos Pimenta
Cenografia - João Mendes Ribeiro
Figurinos - Bernardo Monteiro
desenho de luz - José Álvaro Correia
Video - Alexandre Azinheira
Música - Ricardo Pinto
Voz e elocução - Emília Silvestre
Assistência de encenação - Vânia Mendes

Com:
Isabel Queirós e Jorge Pinto

De 12 a 22 de Maio no Passos Manuel / Porto

Produção ENSEMBLE - Sociedade de Actores www.ensembledeactores.com

Oleanna de David Mamet - Em ensaios



Oleanna de David Mamet - Em ensaios


Dois Homens - fotos de ensaio


Dois Homens - fotos de ensaio


Dois Homens - Rascunho.net


Dois Homens ou o espectro do medo, do medo do medo?

Uma peça de teatro asfixiante, uma exposição singular, um disco inédito dos Dead Combo. O Teatro Azul estreia hoje este tríptico artístico baseado na vida e obra de Franz Kafka. O RASCUNHO esteve nos ensaios da peça.

A peça de José Maria Vieira Mendes surge a partir dos textos de Franz Kafka. Estreada em 1998, revive agora com outro corpo, outro cenário, outra envolvência, lá para os lados do Teatro Azul, em Lisboa. A interpretação é de Ivo Alexandre e a encenação de Carlos Pimenta.

Dois Homens estreia hoje e é exibida às 21h30, de quarta a domingo, até 5 de Abril. O enquadramento sonoro foi concebido pelos Dead Combo. (O disco com três faixas inéditas estará à venda em exclusivo no Teatro Municipal de Almada.)

Para compor o tríptico artístico, João Ribeiro, responsável pelo cenário da peça, inaugura hoje às 18h00 uma exposição de pintura inspirada em Amerika, um dos romances inacabados de Kafka: Oklahoma. A indefinição geográfica patente na obra do checoslovaco que sempre viveu Praga, mas construiu um imaginário americano, é o pano de fundo para o trabalho artístico, tocado pela ironia crítica.

Dois homens – um prenúncio

O RASCUNHO assistiu a um dos ensaios da peça e esteve à conversa com o encenador, Carlos Pimenta (que nos disponibilizou um texto crítico da sua autoria sobre Dois Homens). Entramos na Sala Experimental e somos voyeurs da degradação. Mais próximos do que deveríamos estar, assistimos passivos à asfixia do espectáculo ou talvez ao espectáculo da asfixia.

Quem está aí? Quem está ali? O discurso perseverante percorre O Processo, O Castelo, Colónia Penal, Um Artista da Fome, entre outros escritos kafkianos. Amontoar fragmentário de pedaços de obra, pedaços de afecto, pedaços de vida e pedaços de papel. Vida ou obra? A eterna controvérsia. Estará Kafka ali presente ou apenas uma personagem? Dois Kafkas ou nenhum? Talvez aquela figura transversal a tantas das suas obras – K.

«O desejo de o nomear – ainda que por uma inicial sem rosto e sem gente – revela o inconfessado propósito de o desterrar para as páginas de um livro conhecido ou para um palco de teatro», explica Carlos Pimenta.

O cenário enreda-nos na teia. Cada vez mais apertado, sombrio e inóspito, «o mundo vai encolhendo com os dias», como diz K. A encenação torna-o cada vez menos visível. Não há outra luz. Não há saída. Cresce o niilismo. Um pulsar apertado pelo medo em espiral circunspecta. «Tenho fome. Medo do medo, do medo do medo», refere K.

O solilóquio é diálogo, o paradoxo a única constante. O eco dentro de si mesmo. O querer e não querer. O deteriorar provocado pela indecisão, pela impossibilidade de habitar simultaneamente os dois pratos da balança. Ter o sentimento de estar preso e ao mesmo tempo outro. «Se estivesse solto seria bem pior», diz K. Mantém-se uma discussão que asfixia, externamente interna, onde habitam os espectros de um passado presente dos quais não é possível escapar. A personagem ressuscita-os nos seus temores: «o sol e todo o mundo espreita a parte de trás da minha cabeça».

Nas falas delirantes, no sentimento persecutório, na obcecada tentativa de fuga pelo aprisionamento, há traços marcados na nossa realidade. «Vivemos – tal como K. – num imenso panóptico que nos mantém na incerteza sobre a presença concreta do vigilante e nos induz a comportarmo-nos como se permanentemente vigiados» reflecte Carlos Pimenta.

K. refugia-se na escrita. O refúgio torna-se prisão. Sentimos sofrimento no teclar nervoso. Fica a questão de quem dirigiu e encenou a peça: «O homem a quem chamamos K. é um homem (dois homens?) prisioneiro da sua própria narrativa. Mas… e não é possível libertá-lo?»

http://rascunho.net/artigo.php?id=2471

Elsa Caetano



Dois Homens - Notícia Público

"Dois Homens", de José Maria Vieira Mendes, encenação de Carlos Pimenta, em Almada

K. está preso. Fala consigo próprio e com uma audiência que não vê ou ignora, enquanto vai montando com traves e telas as paredes do seu escritório, do seu quarto, da sua prisão.
"Dois Homens" é uma recriação da obra de Kafka feita por José Maria Vieira Mendes. Uma nova produção encenada por Carlos Pimenta está no Teatro Municipal de Almada até dia 5 de Abril. "Não é uma transcrição, é uma reflexão" sobre a obra de Kafka, explica o encenador. Aqui existe "mais de José Maria e menos de Kafka". O dramaturgo pegou em obras como "O Processo" e de contos como "Na Colónia Penal", "O Abutre" e "Um Artista da Fome" e cruza as diversas narrativas em palco num monólogo. Ou, como Carlos Pimenta explica, um dialogo feito por uma única personagem.
"Dois Homens" estreou em 1998 pelos Artistas Unidos, numa produção encenada por José Maria Vieira Mendes e por Luís Gaspar, com Luís Gaspar como intérprete. Na nova produção tentou-se "pegar na peça com uma outra leitura" e "criar um pouco de memória sobre o texto. Mostrar como o texto se mantém mas pode ser sujeito a várias leituras", diz o encenador. Quis-se observar, 10 anos depois, "como é que quem viu os dois espectáculos acabava por ver as diferenças entre eles".
A nova encenação introduz algumas mudanças na acção da peça e alguns dispositivos cénicos. A produção optou também por fazer um cruzamento de "Dois Homens" com "A Última Gravação de Krapp" de Samuel Beckett, ao retirar os apartes que K. faz durante o seu discurso e colocá-los numa gravação, um pouco como Krapp faz durante a peça de Beckett.
E K. (Ivo Alexandre) vai construindo paredes à volta do seu escritório e isola-se do público. É "alguém que se vai afastando do mundo e que se fecha sobre si mesmo, como Kafka fazia. Tem a ver com a ideia de casulo e de aguentar o seu próprio sofrimento. Kafka fazia isto com a literatura", diz o encenador. "Também parte da ideia de subordinação. De termos sempre de responder a alguém e de não nascermos livres", continua. O que justifica o seu isolamento. "Ele fecha-se porque assim não tem de responder a ninguém. Fechado fica mais livre", mas é um dispositivo cénico que torna complicada a interpretação para o actor.
"Normalmente nos monólogos existe alguma interacção com o público. Nesta peça temos uma personagem que é indiferente ao que o rodeia. E isso constitui um desafio. Normalmente há mais defesas para o actor", diz Ivo Alexandre, que interpreta K. na peça.

Dois Homens - Notícia Correio da Manhã

18 Março 2009 - 20h33
'Dois Homens’ no Teatro Municipal de Almada
Kafka inspira peça de Vieira Mendes
A obra de Franz Kafka serviu de inspiração ao dramaturgo José Maria Vieira Mendes (n. 1976) para escrever ‘Dois Homens’, monólogo que acaba de estrear na Sala Experimental do Teatro Municipal de Almada, interpretada por Ivo Alexandre e encenada por Carlos Pimenta, e ficará em cena até 5 de Abril.
Texto: Numa peça que evoca textos conhecidos do autor de Praga falecido precocemente (em 1924, com apenas 41 anos) – nomeadamente ‘O Artista da Fome’ – quem vai ao Teatro Municipal de Almada é confrontado com uma personagem, ‘K.’, atormentada entre dois sentimentos aterradores: a humilhação e a culpa. Humilhação porque desde a infância que o Mundo lhe parece um lugar ameaçador que o faz sentir-se pequeno e insignificante. Culpa porque, talvez mercê da educação judaico-cristã, quem pode fugir-lhe?
Carlos Pimenta diz que escolheu o texto por duas razões: porque segue atentamente a carreira do jovem Vieira Mendes; e porque Kafka lhe interessa sobremaneira. “Produziu uma obra muito crítica relativamente ao ambiente social e político do seu tempo”, explica. “As suas parábolas sobre a subordinação, a procura de um lugar de pertença, a incapacidade de agir sem culpa ou a autocensura, as hierarquias e os condicionamentos de ordem moral e social constituem, hoje, temas centrais para reflexão.”
Num dispositivo cénico inusitado – o público instala-se em volta de um estrado onde o actor constrói, aos olhos do espectador e ao longo de pouco mais de uma hora, uma espécie de abrigo de madeira – ouvimos ‘K.’ falar, interminavelmente, dos seus receios. Diz que alguém o prendeu. “Vieram dois homens.” Mas o público não vislumbra ninguém. A única coisa que vê é ‘K.’ a construir a sua própria prisão. Porque no final, ironia das ironias: é o medo de ‘K.’ que o torna prisioneiro.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Dois Homens







A Máquina, o gato e o rato


“Nós não temos qualquer noção de liberdade” diz o homem que pensamos chamar-se K. O desejo de o nomear - ainda que por uma inicial sem rosto e sem gente - revela o inconfessado propósito de o desterrar para as páginas de um livro conhecido ou para um palco de teatro. Evitaremos, assim, o confronto directo com a sua cruel proclamação. Condenados a obedecer, é na ficção que achamos algum conforto como se acolhidos por uma comunidade de refugiados em território emprestado. Schiller - que não conheceu o homem a quem poderemos chamar K. - dizia que as leis do teatro começam onde acabam as leis da sociedade. O homem – e também aquele a quem queremos chamar K. - carrega consigo a culpa e a punição que já são constitutivas da sua consciência abstracta. Vivemos – tal como K. - num imenso panóptico que nos mantém na incerteza sobre a presença concreta do vigilante e nos induz a comportarmo-nos como se permanentemente vigiados. A nossa sociedade disciplinar mantém-nos numa espécie de “sistema jurídico unipessoal” no qual sentença e pena decorrem sem intermediação e em que o juiz é simultaneamente o condenado. Notável rentabilização de meios e recursos só possível graças à invenção do pecado original!
Enquanto ser social, o homem vive no paradoxo de um desejo de liberdade e da sua contingência. E é, seguramente, este paradoxo que leva K. a afirmar “ (…) eu sempre respeitei, nunca duvidem da culpa, jamais duvidem da culpa e das ordens e das sentenças e das cores e por aí fora, sim senhor. Porque eu sempre respeitei, eu respeito as ordens (muito bem, muito bem). Nós jamais podemos duvidar da culpa, jamais, porque a nossa culpa, a nossa culpa vem dos outros”. Mas… isso que nos interessa? Quanto a K., já resolvemos encerrá-lo numa ficção. O seu confronto consigo mesmo é, para nós, uma representação. A sua qualidade enquanto personagem coloca-o fora do mundo real que habitamos e no qual as regras do bom senso garantem a homeostasia do sistema e a sua sobrevivência. Contudo, não podemos deixar de nos perguntar se não estará K. ainda demasiado próximo de nós? Não será essa quase ausência de nome que lhe dá uma universalidade que nos permite reconhecê-lo fora da tranquilidade das páginas impressas de onde emerge para, numa presença insidiosa e obsessiva, nos lembrar que fomos nós que o criámos e encerrámos na ficção? Afinal, quem é K.? Talvez um homem no seu labirinto, um funcionário que “ se faz centro de diversas narrativas, quase todas elas incompletas”. Incompletu: não acabado, imperfeito, truncado. O homem a quem chamamos K. é um homem (dois homens?) prisioneiro da sua própria narrativa. Mas… e não é possível libertá-lo?

“Só tens que mudar de direcção”, diz o gato.
“Honrai os vossos superiores”, diz a Máquina.
O mundo, disse o rato, o mundo vai encolhendo com os dias, disse o rato.

Têm razão, o gato e o rato!



Carlos Pimenta, Fevereiro de 2009

Dois Homens - Estreia a 14 de Março no Teatro Municipal de Almada





Dois Homens



Direcção: Carlos Pimenta

Espaço cénico: João Ribeiro

Música original: Dead Combo http://www.deadcombo.net/


Com: Ivo Alexandre


Produção: Companhia de Teatro de Almada http://www.ctalmada.pt/