quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Antigono - em Janeiro 2011 no CCB





Antígono é uma das 3 óperas apresentadas durante a curtíssima existência, de apenas 7 meses, da Ópera do Tejo. Alessandro nell’Indie, La Clemenza de Tito e Antígono constituíram todo o repertório desta casa da ópera e o Antígono estava, efectivamente, em cena na altura do terramoto de 1755. Tinha acabado de estrear duas semanas antes desse fatídico dia 1 de Novembro, e a sua carreira estava portanto em curso. A existência de Antígono, como uma das obras interpretadas na Ópera do Tejo, só nos foi revelada há muito pouco tempo pelo musicólogo Manuel Carlos de Brito, que descobre o libreto na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro e o faz corresponder a uma partitura existente na Biblioteca do Palácio Nacional da Ajuda. O libreto, que terá sido levado para o Brasil, pela família real, por altura do seu exílio durante as invasões napoleónicas, contém toda a informação sobre os criadores e intérpretes da obra e refere que a sua estreia acontece na Ópera do Tejo, durante o Outono de 1755. A data exacta da sua estreia só é conhecida mais tarde, através de um relato do Núncio Apostólico em Lisboa, que descreve a visita do rei, D. José I, ao teatro, a 7 de Outubro, na altura para assistir a um ensaio de orquestra, e a estreia, no dia 16 do mesmo mês. São, como disse, descobertas relativamente recentes, e é claro Antígono nunca mais foi ouvido, desde a sua época de estreia há 256 anos. O elenco original de criativos e intérpretes é verdadeiramente impressionante: desde logo o grande Metastasio é o autor do libreto, António Mazzoni o da música, Giovanni Gali Bibiena (o arquitecto da própria da Ópera do Tejo) é o autor da cenografia, Petronnio Mazzoni o construtor das famosas máquinas de cena (uma espécie de efeitos especiais do teatro do barroco) e Andrea Alberti assinava as coreografias que preenchiam os intervalos.

Baseado na figura histórica do rei da Macedónia que inspirou muitos outros compositores como Mozart, Piccinni e Gluck, Antígono foi escrito para seis solistas masculinos todos castrati à excepção de um, e entre os quais se encontrava o famoso Caffarelli.

Na sua versão para 2011, o minucioso trabalho de transcrição da partitura está a cargo de Nicholas Mcnair, a encenação a cargo de Carlos Pimenta, a cenografia é de António Jorge Gonçalves, os figurinos de José António Tenente e, da lista de intérpretes, é de destacar a presença de Michael Spyres (Antigono), Sonya Ioncheva (Berenice), Martín Oro (Alessandro) e Ana Quintans (Ismene), só para referir alguns.Estes são os meandros da investigação musicológica que desta vez trouxeram à luz do dia uma obra que promete fazer reviver esse período de ouro da ópera em Portugal.

Luisa Taveira

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