sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Antigono - texto de Massimo Mazzeo




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Massimo Mazzeo ANTIGONO (1755) – ANTONIO MAZZONI

A Casa da Ópera do Paço da Ribeira em Lisboa foi inaugurado em Março de 1755. O seu arquitecto, Carlo Sicino Galli-Bibiena, foi membro duma família ligada à construção de muitos dos mais famosos teatros de Europa (o único edifício desenhado por ele e ainda existente em Portugal é a Igreja da Memória em Belém).

O Director Musical do teatro era David Perez, que fez uma revisão da sua ópera Alessandro nell’ Indie (com libretto de Metastasio) para a inauguração. Nos escassos seis meses da sua existência (foi destruido pelo terramoto no dia 1 de Novembro), foram ao palco do teatro só mais duas óperas, ambos novas e da autoria do compositor Antonio Mazzoni (a convite do David Perez) – La Clemenza di Tito em Junho, e Antigono no outono, ambos também com libretto em 3 actos do Metastasio, e que aparentemente nunca mais voltaram a ser ouvidas.

Os libretti de Metastasio eram os mais usados internacionalmente, nessa altura. O próprio Metastasio, italiano mas residente em Viena, controlava cuidadosamente os movimentos dos libretistas (seus protegés) entre as várias cortes de Europa, com ajuda, no caso da península ibérica, do seu amigo o ex-cantor (castrato) Farinelli, que detinha uma influência muito grande sobre a corte espanhol. O libretto do Antigono, baseado numa figura histórica (Antigono Gonata, rei de Macedónia), era um dos mais preferidos pelos compositores da epóca, devido à sua riqueza emocional, sendo usado por compositores como Gluck, Hasse, Jommelli, Paisiello, Piccinni e Traetta, entre outros.

Antonio Mazzoni (1717-1785) era maestro di capella em Fano e Bologna, onde, a seguir aos anos em Lisboa (1753-55), chegou a ser o “Primo maestro al cembalo” do novo Teatro Comunale na altura da sua inauguração em 1763. Tendo liderado a Accademia Filarmonica de Bologna em vários anos, foi um dos examinadores do Mozart na ocasião da sua admissão a essa instituição em 1770. Embora desconhecidas hoje em dia, as suas obras, principalmente as óperas, ganharam muito prestígio a nivel internacioanl na altura, pela sua originalidade e elegância.

Antigono, tal como as outras duas óperas levadas à cena na Casa da Ópera, foi escrito para seis solistas masculinas: dois sopranos (castrato) em papeis masculinos, dois sopranos (castrato) em papeis femininos, um castrato alto e um tenor (este último no papel titular). Em cada uma das óperas aparecia pelo menos um castrato de fama internacional – Caffariello (no caso da ópera do Perez), Gizziello (no caso de La Clemenza di Tito), e Gaetano Guadagni. Guadagni tinha sido escolhido por Handel para cantar no Messias entre outras obras, e criou mais tarde o papel de Orfeo na ópera de Gluck, exercendo uma grande influência nas reformas iniciadas por esse compositor, devido aos seus poderes de representação (tinha sido aluno do grande actor David Garrick, em Londres). O tenor nas primeiras duas óperas foi Anton Raaff (mais tarde o primeiro Idomeneo na ópera do Mozart), e no Antigono foi Gregorio Babbi, um dos mais conhecidos da época. Cada solista tem essencialmente uma ária em cada acto, com algumas excepções. De conjuntos existem só um dueto no fim do 2º Acto e um “Coro” dos seis solistas no final do 3º Acto. Há também uma marcha instrumental no 1º acto. A música é surprendentemente bonita, com uma escrita virtuosística para os violinos, e muitas indicações de dínamica, dando-lhe mais o carácter duma ópera pre-clássica (com traços do estilo “Mannheim”, mais propriamente Jommelliano) do que uma ópera barroca.

A instrumentação-base consiste em dois oboés, duas trompas, dois trompetes (não existe parte escrita pelos tímpanos) e cordas. Aparecem também instrumentos- obbligato nas árias – duas flautas de bisel, duas flautas transversais, duas “trombe di caccia” e duas “trombe lunghe”.



-ANTIGONO, Tenore, Michael Spyres
-BERENICE, Soprano, Geraldine Mcgreevy
-DEMETRIO, Soprano, Pamela Lucciarini
-ALESSANDRO, Alto; Martin Oro
-ISMENE, Soprano Ana Quintans
-CLEARCO, Soprano, Maria Hinojosa Montenegro

http://www.pietrometastasio.com/news.htm

http://www.youtube.com/watch?v=pg7hPfjBulc

http://www.youtube.com/watch?v=guGyyiT2zEo&feature=related

http://www.youtube.com/watch?v=XasCqW5CHaI

http://www.crotchet.co.uk/K6172012.html

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Antigono - em Janeiro 2011 no CCB





Antígono é uma das 3 óperas apresentadas durante a curtíssima existência, de apenas 7 meses, da Ópera do Tejo. Alessandro nell’Indie, La Clemenza de Tito e Antígono constituíram todo o repertório desta casa da ópera e o Antígono estava, efectivamente, em cena na altura do terramoto de 1755. Tinha acabado de estrear duas semanas antes desse fatídico dia 1 de Novembro, e a sua carreira estava portanto em curso. A existência de Antígono, como uma das obras interpretadas na Ópera do Tejo, só nos foi revelada há muito pouco tempo pelo musicólogo Manuel Carlos de Brito, que descobre o libreto na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro e o faz corresponder a uma partitura existente na Biblioteca do Palácio Nacional da Ajuda. O libreto, que terá sido levado para o Brasil, pela família real, por altura do seu exílio durante as invasões napoleónicas, contém toda a informação sobre os criadores e intérpretes da obra e refere que a sua estreia acontece na Ópera do Tejo, durante o Outono de 1755. A data exacta da sua estreia só é conhecida mais tarde, através de um relato do Núncio Apostólico em Lisboa, que descreve a visita do rei, D. José I, ao teatro, a 7 de Outubro, na altura para assistir a um ensaio de orquestra, e a estreia, no dia 16 do mesmo mês. São, como disse, descobertas relativamente recentes, e é claro Antígono nunca mais foi ouvido, desde a sua época de estreia há 256 anos. O elenco original de criativos e intérpretes é verdadeiramente impressionante: desde logo o grande Metastasio é o autor do libreto, António Mazzoni o da música, Giovanni Gali Bibiena (o arquitecto da própria da Ópera do Tejo) é o autor da cenografia, Petronnio Mazzoni o construtor das famosas máquinas de cena (uma espécie de efeitos especiais do teatro do barroco) e Andrea Alberti assinava as coreografias que preenchiam os intervalos.

Baseado na figura histórica do rei da Macedónia que inspirou muitos outros compositores como Mozart, Piccinni e Gluck, Antígono foi escrito para seis solistas masculinos todos castrati à excepção de um, e entre os quais se encontrava o famoso Caffarelli.

Na sua versão para 2011, o minucioso trabalho de transcrição da partitura está a cargo de Nicholas Mcnair, a encenação a cargo de Carlos Pimenta, a cenografia é de António Jorge Gonçalves, os figurinos de José António Tenente e, da lista de intérpretes, é de destacar a presença de Michael Spyres (Antigono), Sonya Ioncheva (Berenice), Martín Oro (Alessandro) e Ana Quintans (Ismene), só para referir alguns.Estes são os meandros da investigação musicológica que desta vez trouxeram à luz do dia uma obra que promete fazer reviver esse período de ouro da ópera em Portugal.

Luisa Taveira